sexta-feira, 6 de junho de 2008

Apostas

Há certos tipos de aposta que adoraríamos perder...
Por exemplo, se hoje eu tivesse que apostar na equipe que seria campeã da Taça Libertadores, apostaria de olhos fechados no Fluminense, e sei que fatalmente iria ganhar. Eis uma aposta que gostaria de perder...

Recentemente fiz uma aposta com um amigo haitiano entusiasta da candidatura de Barack Obama à presidência dos EUA. Seu entusiasmo é, sobretudo, com uma crença de que os EUA estariam mudando e que Obama representa esta mudança de mentalidade. Não é com menos entusiasmo que vejo esta candidatura como um sinal de uma importante mudança no mundo, a mais rica e poderosa nação, cuja história sempre foi marcada por uma radical clivagem racial, teria em sua presidência um “homem de cor”. Mas também olho com um pouco mais de realismo desencantado: não, os EUA ainda não estão preparados para ter um negro como seu presidente.

Então, fizemos uma aposta: Obama não derrotará McCain. Vamos jantar num caro restaurante chinês de Pétion Ville, se Obama se tornar presidente dos EUA, eu pagarei o jantar. Se ele perder, meu amigo pagará o jantar. Eis uma aposta que adoraria perder...
As eleições nos EUA sempre têm grande importância aqui no Haiti.

Os próprios movimentos da política nacional do Haiti estiveram nos últimos quinze anos muito relacionados com a alternância entre republicanos e democratas no poder nos EUA. O golpe de 1991 contra Aristide, segundo alguns relatos daqui, estaria intimamente ligado às ações da CIA, posto que um dos líderes deste golpe, que viria a se tornar presidente com a derrubada de Aristide, Raoul Cedras, foi aluno da malsinada “Escola das Américas”. Estes mesmos relatos afirmam que o golpe dado teria apoio do então presidente George Bush “Pai”.

De outro lado, a volta de Aristide ao poder, segundo o jornalista Jean Dominique, assassinado em 2000, foi um coup de télephone (literalmente, “golpe de telefone”), dado por Bill Clinton no governo Cedras. Dominique afirmava que os EUA derrubaram Baby Doc da mesma forma, e num programa de TV nos EUA, disse que se tratava do Presidente dos EUA tomar uma atitude contra o governo golpista e restituir Aristide ao seu lugar de presidente eleito. Aristide voltou ao país protegido pelos marines americanos e retomou seu posto de presidente.

Alguns críticos mais radicais e adeptos de teorias conspiratórias fazem uma associação curiosa entre a queda de Aristide em 2004 e o fato do presidente dos EUA ser George Bush, “Filho”. O fato é que a comunidade haitiana nos EUA apóia intensamente os democratas, pois crê que a política destes para o Haiti é mais positiva (e propositiva) que o “Big Stick” republicano. O curioso é que algumas informações que tive por aqui diziam que esta comunidade apoiava a candidatura do casal Clinton e, reforçando a crítica comum à Obama, que este não seria “suficientemente negro”. Outros afirmam que este apoio viria de partidários de Aristide, que são muitos na Flórida, principalmente, que conta com a simpatia e o apoio do casal Clinton.

O cenário das eleições nos EUA tem grande importância no Haiti por variadas razões. Boa parte da comunidade haitiana nos EUA sustenta a economia do país através de remessas de dinheiro e alimentos para os parentes daqui. Uma das principais alternativas para melhoria de vida por aqui é a ida para os EUA, para desta forma remeter dinheiro para os parentes daqui. A falta de perspectivas dos jovens e jovens adultos faz dos EUA um eldorado e o sonho do Green Card povoa até as demandas aos sacerdotes vodu, que têm na diáspora haitiana uma parcela significativa de sua clientela.

Neste momento, Obama já derrotou Hilary Clinton e está frente a frente com McCain para disputar a presidência do país. Meu amigo diz para mim que já venceu a metade da aposta, e eu lhe respondo que não, pois sempre lhe dissera que Obama seria capaz de derrotar Hilary. Digo sempre que o difícil será convencer algum morador do Kansas, ou do Alabama que o presidente dos EUA se chama Barack Hussein Obama... Ou ouvir McCain nos debates se referir à Obama como Mr. Hussein...

Em 1989 eu militava num partido que tinha como sonho levar um operário fabril à presidência do Brasil. Em 2002, com alguma desilusão e muito realismo chegamos com Lula ao poder, já não eram mais o mesmo projeto e o mesmo operário que chegava ao poder. Mas havíamos vencido. Vejo o caminho de Obama como este mesmo sonho. Será que ele se realiza tão rápido ou será ainda necessária uma longa espera, muitas desilusões e mudanças para chegar lá?

Abraço

Um comentário:

Léo Silva disse...

Zé,

Realmente ainda é cedo para dizer se o Barack Obama será o presidente dos EUA.

Tirando pela linha de ação que sua equipe desenvolveu durante as primárias é ver o que poderão fazer para ganhar do McCain. Se forem tão criativos agora como antes, vc vai ter q pagar um jantar para seu amigo.

É preciso observar que o eixo do discurso foi unidade e esperança. Ele nunca disse que será o primeiro presidente negro dos EUA. Não precisava e, ouso dizer, não podia. Não precisava porque está na cara. Não podia para não espantar o resto do eleitorado, que poderia ser tomado pelo medo do que poderia decorrer disso.

Depois, Lula, Obama e Hillary têm uma coisa em comum,. Suas candidaturas quebraram paradigmas. De resto, nada mais.