sexta-feira, 21 de março de 2008

Madam, mwen blanc, pa fou! (Ou « fè pri nan maché a »)


Tem sido curiosa a minha experiência diária em Jacmel, às vezes que vou ao mercado para comprar comida. Quando falo mercado, entenda-se, me refiro aos mercados de rua e não aos supermercados, onde os preços são determinados ou por código de barra, nos supermercados mais modernos como o “Caribbean”, ou pela etiqueta, nos mais simples, como os daqui de Jacmel. O fato é que no mercado de rua os preços não vêm escritos nos produtos, e nem é como nas nossas feiras livres, onde há um espaço para regatear o preço, mas este quase sempre está afixado em uma placa. Desta maneira, a prática de “fè pri nan maché à” é constante. “Ban mwen bon pri, madam”, e começa a negociação...

O problema é que ser um “blanc”, quer dizer, um estrangeiro (no meu caso, um “blanc nwa”), sempre leva o comerciante a elevar o preço, às vezes de forma exorbitante... Por isso, quando vou ao mercado, rodo, rodo, dou voltas e voltas e chego para fazer as compras. Já “fè pratik” em algumas barracas. Por exemplo, a senhora onde comprei pratos, talheres e utensílios domésticos, lá eu já estou me tornando “pratik”, ou seja, cliente.

Às vezes fico um pouco irritado com os moto-táxis, pois alguns deles, quando percebem que você é estrangeiro, tentar meter uma mixaria a mais no bolso. A distância entre o centro da cidade e minha casa, normalmente custa 15 gourdes (três dólares haitianos). Mas uns e outros, mais malandros, querem cobrar vinte. Quase sempre tenho dinheiro trocado, o que dificulta as coisas para o malandro, mas outro dia dei 20 gourdes e o cara fez ainda uma cara de que estava esperando mais dinheiro, e eu cá com a minha cara de “E aí negão? E o meu troco????”, quando ele viu que eu não ia dar mais dinheiro, ainda teve a cara de pau de dizer (em créole): “Está certo!”. Eu disse “Ban mwen monnaie!” (“meu troco”) e ele, insistiu... Fiquei puto, mas não quis arranjar confusão... Saí dizendo entre os dentes: “Voler!!!”.

Mas não é sempre que essas coisas acontecem. E no mercado elas às vezes são engraçadas. Pois bem... Há algumas coisas que não compreendo bem, mas o sistema de pesos e medidas das coisas é bem peculiar. É mais menos como o nosso “lote” das feiras. Outras coisas, porém, são muito diferentes. O diversos feijões que se encontra por aqui são vendidos por uma medida que é uma espécie de caneca ou pelo “sachet” (saquinho). Os ovos, são vendidos de três em três.

Aliás, foi comprando ovos que vivi uma situação engraçada...

Cheguei diante de uma senhora, com seus produtos espalhados pelo chão. Lá ela tinha vários produtos, entre eles, algumas galinhas e uma bacia daquelas esmaltadas com ovos. Os ovos aqui no Haiti são de dois tipos: os americanos, de Miami, encontrados em supermercados e os ovos de “poulè peyi”, a galinha “nacional”, comprados em mercados de rua. Na verdade, essa designação se opõe aos ovos e aves importados especialmente da República Dominicana. A poulè peyi se diferencia, sobretudo, pela forma em que ela é criada e alimentada. Ao contrário das aves gordas alimentadas por ração, a poulè peyi é como a nossa galinha caipira, criada solta, ciscando nos terreiros.

Fui lá para comprar ovos para a minha vizinha, que de antemão havia me dito que eles custariam qualquer coisa em torno de 8 dólares haitianos (40 gourdes). Com esse preço na cabeça, já sabia como poderia negociar, qual a margem e quanto poderia estar perdendo...

Não é que a dona ao ver a minha cara de “gringo” perguntando “combien cout ça?”, disparou: “20 dolá”... Eu disse, “Coumanman!” (uma expressão de um personagem cômico local). Repeti a pergunta: “Madam, combien?”, pegando 6 ovos... Ela repetiu, sabendo que como todo gringo, é preciso que se dê o preço em gourdes, “100 gouds”. Eu, malandramente, disse: “Madam, mwen blanc, pa fou!!! Ban mwen twa dolá!”. Ela riu e comentou com as outras: “Li blanc, pa fou!”. Rimos juntos, e ela disse: “di gouds” e eu “uit!!!”. Madame fechou negócio, rindo ainda mais, comentando com as outras, “Mesye là, li blanc, pa fou!”.

Aos poucos, se vai aprendendo os preços e as estratégias. Normalmente, quando um preço parece absurdo, não é um engano, ele é um absurdo. Já me explicaram por aqui que a melhor estratégia é oferecer a metade da metade do valor dado (1/4 do preço apresentado) para conseguir chegar à metade do preço, supostamente um “bon maché”. Mas varia. O pior é quando você acha que está sendo enganado, dá uma volta pelo mercado inteiro e descobre que o melhor preço era aquele que te foi oferecido e parecia absurdo.

O preço da chadek, por exemplo, que é a grapefruit, está sendo considerado alto, um dólar haitiano pela unidade, conseguir menos que isso será um “bon maché”. Mas não raro, é muito difícil ter uma idéia de quanto possa custar. Cinco cebolas médias por quatro dólares haitianos me pareciam um bom negócio, mas já me advertiram que não. Que estou pagando um pouco caro. Esse preço pode ser justo para a mesma quantidade de cebolas grandes.

Mas estou aprendendo, dando um jeito, me virando sem falar muito créole, sendo simpático e bonachão, rindo junto as vendedoras, fazendo caretas, comprando, respondendo carinhosamente os chamados: “Cherri, ogniôn?”, “Bon chadek, cherri”. E eu, “Non messi, “non madam, pas ankò”... Mas realmente a que fez mais sucesso foi mesmo a frase do título da postagem: Mwen blanc, pa fou...


Abraços




P.S.: É engraçado dizer que sou "blanc"... Mas como expliquei essa é a designação genérica de estrangeiro...

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