segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Visita ao Institut de Recherche Social d'Haïti




Após quase uma semana no Haiti, a despeito das muitas fotos que tirei, estava em dívida com algumas pessoas. Principalmente a equipe do Nucec que acompanha de maneira assídua este blog (lá estão pelo menos três dos meus nove leitores diários). Devia a eles informações sobre o Institut, sobre o que havia achado do lugar, sua localização, enfim, coisas básicas, mas importantes para que a equipe saiba exatamente como e onde vai se instalar.
Em primeiro lugar, o espaço é realmente excelente, encantador, eu diria. Nada muito grande ou exagerado, diria que na medida certa para o trabalho. Acho que carece de uma melhor divisão do espaço para realização de aulas ou seminários, mas de qualquer forma, a sala principal serve para conferências e há uma outra sala, que pode servir para reuniões.
Como se trata de uma casa, que certamente seria uma moradia, a estrutura das acomodações é mais do que excelente. Camas grandes, espaços arejados e bem iluminados, mesas de trabalho, um conforto incrível, de fazer inveja a um bom hotel e muito superior a qualquer albergue. São três quartos: um deles dispõe de três camas e um banheiro, além de um pequeno closet onde os ocupantes do quarto podem colocar as suas coisas. As camas dispõem de cabeceiras com pequenas estantes, que permitem deixar próximos, os livros e pequenos objetos. Há um segundo quarto, para uma única pessoa, com armários, sem banheiro. O banheiro, que serve a este quarto e ao terceiro e último, fica no corredor. É bem espaçoso, pois tal como o outro, permite servir às pessoas que ficarem neste e no outro quarto, que dispõe de duas camas do mesmo tipo das outras, além de uma escrivaninha, a ser compartilhada pelos dois ocupantes do quarto.
A casa fica a pouco mais de 700 m da entrada da Route Delmas 83 (a referência é um posto de gasolina Texaco), no número 7 – 8 da Ruelle Eucaliptus. Nesta esquina há também um supermercado, o Eagle Supermarket. Entrando pela Delmas 83, segue até a Ruelle Balmir, entra na Ruelle Cignone, a primeira à direita é a Ruella Eucaliptus. Não é difícil vindo de Pétion Ville, descer de tap tap pela Delmas, saltar no posto Texaco e andar. Subindo de Port au Prince, pegar um tap tap que suba do Centro pela Delmas.
De fato, a casa é um pouco afastada do movimento da cidade, mais próxima a Delmas do que de Port au Prince, porém, compensa pela estrutura e segurança.
A casa não dispõe de gerador, mas tem um inversor, que atende bem às condições necessárias ao trabalho. E ainda, segundo me informaram, vai dispor de internet wireless e de um vestíbulo, onde vão instalar uma TV a cabo.
O que ainda incomoda também é o pouco movimento, aliás, quase nenhum movimento no Instituto. Não há estudantes e as atividades estão restritas aos seminários que ocorrem lá. Esta semana vai haver um seminário sobre cultura e violência.

* * *

Os temas da violência e da cultura autoritária parecem uma obsessão do grupo ao qual me encontro próximo no Haiti. Há de fato uma grande preocupação com a situação do país, que avançou bastante deste a primeira vez que aqui estive. Os kidnapping não são mais o tema preferencial da imprensa local e os problemas são muitos. Mas não se fala mais tanto na violência como se falava antes, embora ela pareça um tema subjacente à qualquer conversa.
Ontem, no almoço, conversando com um grupo de pessoas, em sua maioria críticos ao governo Préval/Aléxis, um deles comentou em defesa de Préval que nunca havia ocorrido no Haiti um período tão longo sem crises institucionais. Objetaram a ele, no entanto, que tal “estabilidade” se deve à presença da Minsutah, e que nunca poderá haver eleições livres enquanto Préval e o os lavalassianos estiverem no poder. Aliás, o que se disse, claramente, é que não há eleições livres no Haiti.
Aliás, sobre as próximas eleições presidenciais, levantou-se a hipótese da candidatura de Mirlande Manigat, jurista e especialista em relações internacionais, uma importante intelectual do país. Sobre sua candidatura, disseram que ela teria poucas chances, devido ao intenso controle que Préval teria sobre a máquina pública e o fato de que as eleições no país jamais serão limpas sob o atual sistema. Sugeri que o sistema de voto eletrônico no Brasil têm sido adotado como um sistema capaz de evitar fraudes, mas um dos meus interlocutores ignorou isto, dizendo que no Haiti não é possível implementar tal sistema.
Causa atenção, aliás, o interesse que qualquer haitiano médio tem sobre política.
Onde estou hospedado, por exemplo, todos os dias meu anfitrião conversa sobre política nacional com sua cozinheira, que emite suas opiniões com bastante autonomia e propriedade. Da última vez que estive no país, conhecemos Bob, um ativista e artista que além de demonstrar grande conhecimento do quadro político mundial em que se insere a Minustah (Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti), fazia ligações entre a história da formação do Haiti como país e a atual crise.
No aeroporto da cidade do Panamá, fiquei próximo a um grupo de quatro jovens que se entretinha em acalorada discussão sobre a situação econômica do país. Um deles, com o qual travei contato, era de Jacmel e era músico. Um outro, com quem conversei mais tarde, já dentro do avião, vinha do Brasil, de São Paulo, onde estuda turismo e falava português, a estes se juntavam ainda duas religiosas e uma jovem senhora, que vez por outra emitia alguma opinião. Outros, em volta, participavam com os olhos e às vezes com meneios com a cabeça, ora concordando, ora discordando. Interessante que independente de suas formações educacionais ou posição social, todos eles discutiam sobre a política local.
No almoço de ontem, além da sucessão presidencial local, que será daqui a três anos, o tema principal era a disputa entre Barack Obama e Hilary Clinton pelo posto de candidato à presidência dos EUA pelo partido democrata. A maioria das pessoas se encanta com Obama, e acha que ele realmente vencerá as prévias. Em tom de gozação, a dona da casa sugeriu que, uma vez que os EUA são os donos do mundo, todo o resto do mundo devia votar, para escolher seu presidente. Provocativamente, objetei que, a despeito de Obama vencer as prévias, isso não garante que ele derrote McCain, provável candidato republicano, e que os EUA devem ter mais medo de um negro democrata na presidência do que de uma mulher. A crença geral, no entanto, é de que Obama vá vencer não apenas as prévias, mas a eleição presidencial, embora se imagine que ele não vá ganhar na Flórida, estado que foi decisivo na vitória de George Bush.
Na verdade, já havia notado isso antes, e da última vez que estive aqui, todos estavam com a atenção voltada para a eleição na França, que deu a vitória a Nicolas Sarkozy, em maio de 2007. Parece estranho dizer, mas as pessoas aqui parecem muito mais antenadas ao mundo do que se pode imaginar e o debate político afeta realmente o dia a dia das pessoas.
Como já disse repetidas vezes, o Haiti é um país especial, com uma história e pessoas muito especiais...

Abraços a todos,
Triste com o sacode que meu Mengão levou, mas cheio de fé para a Libertadores e que vamos vencer a Taça Guanabara.



P.S.: Para os supersticiosos e para provocar a massa de incrédulos, lembro que no ano passado, antes de ganharmos a Taça Guanabara, também tomamos um "sapeca iaiá" de um tricolor, que fez a final conosco, chegou a ganhar o primeiro jogo... Mas no final do filme, o mocinho sempre vence, MENGÃO CAMPEÃO DA TAÇA GUANABARA DE 2007... Não duvido nem um pouco que em 2008 as coisas serão do mesmo jeito.

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