Após a minha chegada ao Haiti quis poupar meus 9 leitores de algumas obviedades que já dissera em outras ocasiões, por isso a demora em atualizar o blog.
Uma coisa interessante que logo de cara me chamou atenção foi justamente a minha chegada ao Aeroporto Toussaint Loverture. Na primeira vez tudo parecia novo e confuso, não entendia quase nada do que estava acontecendo à minha volta. O vôo vindo de Miami é realmente algo mais movimentado. Não é que a viagem via Cidade do Panamá não tenha também um grande número de pessoas chegando ao Haiti. Porém, ao contrário do vôo de Miami, onde a maioria das pessoas é de idade mais avançada, embora haja muitos jovens, este vôo vem com um grande número de jovens e jovens adultos. Isso já causa uma tremenda diferença no cenário e na atitude dos comissários de bordo. No vôo de Miami o pessoal de bordo acaba sendo mais solícito, mais atento para ajudar no preenchimento dos documentos da imigração. Em outras palavras, a primeira impressão sobre os jovens que chegam ao Haiti, via Panamá, ao contrário do pessoal mais velho que vem via Miami, é alfabetizada e prescinde da ajuda dos comissários no preenchimento dos formulários em língua francesa.
Um outro fato de destaque, é que ao contrário da primeira vez, onde a insegurança diante do novo me colocou nas mãos de pessoas que “querem ajudar” para receber “tips”, dessa vez me virei bem melhor sozinho. É natural que estejamos mais espertos e atentos ao que se passa à nossa volta quando sabemos o que esperar. Incomoda um pouco a insistência das pessoas que ficam no aeroporto querendo ajudar a empurrar o seu carrinho de malas, abrir portas, fazer qualquer coisa que possa lhes render alguns dólares.
Outro fato engraçado ocorreu quando ainda na área de embarque fui alugar um carrinho de malas. Na parede há uma tabela apontando o valor do aluguel: U$ 1,00 ou 38 GDES (gourdes, moeda local). Nada demais se eu não tivesse comigo algumas notas de gourdes que sobraram da última vez que estive aqui. Saquei do bolso uma nota de 50 gourdes, esperando que a moça me desse o troco. Com uma cara de desdém, denotando um certo mau-humor, ela me disse que não tinha troco. Fui obrigado a usar uma nota de um dólar das que tinha no bolso.
O Aeroporto Toussaint Louverture tem lá um certo charme e personalidade (como dizem os argentinos, “caráter”). É notável a mudança de clima entre o grande shopping center que se parece a área de embarque internacional do Aeroporto Tucumen (da Cidade do Panamá) e o simpático Toussaint. Quando viajei pelo nordeste sozinho em férias, um pouco antes de ingressar no mestrado, havia percebido que as cidades do nordeste do Brasil perdiam um pouco da sua cara original nos shopping centers. Lá a mocinha que veste Osklen, que usa os óculos Oakley ou qualquer coisa de griffe famosa não difere muito da “patricinha” carioca. A cidades do Brasil se tornam totalmente iguais quando estamos num shopping.
Acho que de alguma forma podemos dizer isso em relação aos aeroportos. Os poucos que conheci dentro e fora do Brasil não diferem muito entre si, e se parecem muito com o nosso Tom Jobim. Miami, Cidade do Panamá, Santo Domingo, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo parecem-se a mesma cidade em seus aeroportos internacionais. Há muito pouco para ver ou saber sobre essas cidades por estes lugares de passagem. Ao contrário de estações de trem ou rodoviárias, que têm sempre uma cara particular, muito pessoal (um certo ar triste e melancólico que me traz a idéia de grandes sonhos e grandes frustrações), os aeroportos são frios, distantes, dizem muito pouco de si mesmo, são impessoais como certas atendentes de guichês de companhias aéreas ou como um serviço de mensagens eletrônicas. São distantes como a voz robótica de Íris Letieri anunciando a partida ou chegada de mais um vôo. E mais, os vôos, todos os dias, têm sempre a mesma numeração, o mesmo horário, parecendo sempre voltar ao mesmo lugar, um ciclo interminavelmente insosso.
Acho que isso não pode ser dito do Toussaint... Ele de fato tem caráter e personalidade próprios. Tem um pouco do charme do Santos Dumont, aquela coisa de saltar na pista e andar por entre as aeronaves pousadas, mas vai um pouco além disso. Tem algo meio vintage, som de amplificador valvulado, disco de vinil... Um charme único daquelas coisas que não têm mais lugar num mundo onde as coisas impessoais e neutras prevalecem sobre o calor humano. Talvez seja isso... O Toussaint, com uma certa desorganização e um clima meio de improvisação, tem justamente isso: calor humano! E isso faz uma tremenda diferença...
Uma coisa interessante que logo de cara me chamou atenção foi justamente a minha chegada ao Aeroporto Toussaint Loverture. Na primeira vez tudo parecia novo e confuso, não entendia quase nada do que estava acontecendo à minha volta. O vôo vindo de Miami é realmente algo mais movimentado. Não é que a viagem via Cidade do Panamá não tenha também um grande número de pessoas chegando ao Haiti. Porém, ao contrário do vôo de Miami, onde a maioria das pessoas é de idade mais avançada, embora haja muitos jovens, este vôo vem com um grande número de jovens e jovens adultos. Isso já causa uma tremenda diferença no cenário e na atitude dos comissários de bordo. No vôo de Miami o pessoal de bordo acaba sendo mais solícito, mais atento para ajudar no preenchimento dos documentos da imigração. Em outras palavras, a primeira impressão sobre os jovens que chegam ao Haiti, via Panamá, ao contrário do pessoal mais velho que vem via Miami, é alfabetizada e prescinde da ajuda dos comissários no preenchimento dos formulários em língua francesa.
Um outro fato de destaque, é que ao contrário da primeira vez, onde a insegurança diante do novo me colocou nas mãos de pessoas que “querem ajudar” para receber “tips”, dessa vez me virei bem melhor sozinho. É natural que estejamos mais espertos e atentos ao que se passa à nossa volta quando sabemos o que esperar. Incomoda um pouco a insistência das pessoas que ficam no aeroporto querendo ajudar a empurrar o seu carrinho de malas, abrir portas, fazer qualquer coisa que possa lhes render alguns dólares.
Outro fato engraçado ocorreu quando ainda na área de embarque fui alugar um carrinho de malas. Na parede há uma tabela apontando o valor do aluguel: U$ 1,00 ou 38 GDES (gourdes, moeda local). Nada demais se eu não tivesse comigo algumas notas de gourdes que sobraram da última vez que estive aqui. Saquei do bolso uma nota de 50 gourdes, esperando que a moça me desse o troco. Com uma cara de desdém, denotando um certo mau-humor, ela me disse que não tinha troco. Fui obrigado a usar uma nota de um dólar das que tinha no bolso.
O Aeroporto Toussaint Louverture tem lá um certo charme e personalidade (como dizem os argentinos, “caráter”). É notável a mudança de clima entre o grande shopping center que se parece a área de embarque internacional do Aeroporto Tucumen (da Cidade do Panamá) e o simpático Toussaint. Quando viajei pelo nordeste sozinho em férias, um pouco antes de ingressar no mestrado, havia percebido que as cidades do nordeste do Brasil perdiam um pouco da sua cara original nos shopping centers. Lá a mocinha que veste Osklen, que usa os óculos Oakley ou qualquer coisa de griffe famosa não difere muito da “patricinha” carioca. A cidades do Brasil se tornam totalmente iguais quando estamos num shopping.
Acho que de alguma forma podemos dizer isso em relação aos aeroportos. Os poucos que conheci dentro e fora do Brasil não diferem muito entre si, e se parecem muito com o nosso Tom Jobim. Miami, Cidade do Panamá, Santo Domingo, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo parecem-se a mesma cidade em seus aeroportos internacionais. Há muito pouco para ver ou saber sobre essas cidades por estes lugares de passagem. Ao contrário de estações de trem ou rodoviárias, que têm sempre uma cara particular, muito pessoal (um certo ar triste e melancólico que me traz a idéia de grandes sonhos e grandes frustrações), os aeroportos são frios, distantes, dizem muito pouco de si mesmo, são impessoais como certas atendentes de guichês de companhias aéreas ou como um serviço de mensagens eletrônicas. São distantes como a voz robótica de Íris Letieri anunciando a partida ou chegada de mais um vôo. E mais, os vôos, todos os dias, têm sempre a mesma numeração, o mesmo horário, parecendo sempre voltar ao mesmo lugar, um ciclo interminavelmente insosso.
Acho que isso não pode ser dito do Toussaint... Ele de fato tem caráter e personalidade próprios. Tem um pouco do charme do Santos Dumont, aquela coisa de saltar na pista e andar por entre as aeronaves pousadas, mas vai um pouco além disso. Tem algo meio vintage, som de amplificador valvulado, disco de vinil... Um charme único daquelas coisas que não têm mais lugar num mundo onde as coisas impessoais e neutras prevalecem sobre o calor humano. Talvez seja isso... O Toussaint, com uma certa desorganização e um clima meio de improvisação, tem justamente isso: calor humano! E isso faz uma tremenda diferença...
Apesar de todas as mazelas e da pobreza, de sua elite incapaz de compreender e transformar o país, da ausência de organizações populares de peso, capazes de intervir no espaço público e uma série de outros juízos de valor que possamos fazer sobre este país, o Haiti tem realmente algo de calor humano para oferecer a quem chega aqui...
Por essa e por muitas outras razões, há sempre uma surpresa, uma novidade, quando desembarcamos por aqui...
Fico aqui...
Abraços
P.S.: Para quem tem orkut estou enchendo um álbum com fotos diárias de meus passeios por Port au Prince.
P.S.: Para quem tem orkut estou enchendo um álbum com fotos diárias de meus passeios por Port au Prince.
P.S.: Saudades de tudo e de todos... Vocês podem acreditar nisso? Já dei de presente a um estudante haitiano uma das duas camisas minhas do Flamengo... Saudades do Mengão!!!!!
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